segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Cover Baixo 01 - Setembro de 2002 - Origens do R&B


O nascimento da soul music
Foi com grande prazer que aceitei o convite de COVER BAIXO para escrever sobre uma das minhas maiores paixões: black music. Nesta coluna, tenho por objetivo não só dar dicas na execução do contrabaixo, mas também situar o baixista dentro da música negra norte-americana.
Neste primeiro encontro, abordo o surgimento e os aspectos históricos da soul music. Posteriormente, vamos mergulhar na história dos heróis do contrabaixo que ajudaram a construí-la e das diferenças de estilos do soul da Stax, Motown, Atlantic e Philadelphia International Records, quatro das maiores gravadoras dos anos 60 e 70 especializadas nesse gênero. Além disso, vocês verão aspectos do nascimento do funk e seus respectivos personagens, passando pela disco e acid jazz e de como o soul influenciou até a música popular brasileira. Então, mãos à obra!
A soul music é a combinação de dois estilos de músicas afro-americanas: o rhythm n’ blues (r&b) e o gospel. O blues, pai do r&b, originou-se nos cantos dos escravos nas colheitas de algodão no sul dos Estados Unidos há alguns séculos. Basicamente, era a forma encontrada por eles para expressar suas mazelas e sofrimentos causados pela absurda condição que lhes era imposta. Já o r&b era uma forma de tocar o blues de maneira mais rápida e com letras menos sofridas, uma música feita por negros para platéias negras, que teve o seu apogeu no início dos anos 50. O complexo quebra-cabeça que é a música americana do século XX pode tornar-se mais confuso quando se percebe que o r&b deu origem a outra forma de expressão que mudaria por completo a música pop mundial: o rock and roll. É natural que existisse uma interseção, nos anos 50, dos recém-nascidos rock e soul, por conta de os dois estilos serem, na verdade, originados do até então onipresente rhythm n’ blues.
Mas até onde se estende a fronteira do r&b e como surgiu o soul? A resposta é o gospel, um estilo de música religiosa que tem o propósito de elevar o espirito humano. Nascido nas igrejas do sul dos Estados Unidos, o gospel serviu de veículo para uma retomada de identidade dos negros por meio da religião e, conseqüentemente, de sua música. Ao introduzir elementos de gospel em suas canções, os pioneiros do estilo estavam provocando uma revolução na maneira de se expressar e também na forma de tocar dos músicos que os acompanhavam. Para quem não sabe, estou me referindo a James Brown, Ray Charles, Sam Cooke, T-Bone Walker e Jack Wilson, entre outros.
Especificamente em relação aos contrabaixistas de r&b no início dos anos 50, pode-se dizer que poucos se destacaram, e não porque não existissem músicos talentosos. Na verdade, não era usual dar créditos aos profissionais que acompanhavam a verdadeira avalanche de conjuntos vocais surgida naquela época. Além disso, as condições técnicas não colaboravam para o surgimento de grandes nomes. Muitos detalhes de arranjo, às vezes, perdiam-se nas limitadas gravações feitas, geralmente, em um único canal e, via de regra, ao vivo. Ainda assim, alguns nomes como Lloyd Trotman (da banda de Ray Charles), Abie Parker (tocava com Sam Cooke) e Roosevelt Sheffield (do The Coasters) conseguiram furar esse bloqueio imposto pela precariedade técnica. Com o advento do soul, o baixo e os baixistas passaram, aos poucos, a ter seu devido reconhecimento. Tal fato possibilitou até o aparecimento de verdadeiros superheróis do instrumento, como James Jamerson, Donald “Duck” Dunn e George “Freakman” Porter, entre outros.
Na próxima edição, o soul de Memphis e alguns de seus personagens principais serão a pauta desta coluna. Até lá!

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